Tartarugas

A comemoração latente. Gritos, gol. Gritos, mais um gol.

Gritos

Mais outro gol

E os telefones tocam como loucos.

Ele queria me contar

Pois eu queria te contar algo após os gols. Eu queria contar que eu estou rindo. Eu queria te contar que isso já passou. Os gols já foram. Agora é só a comemoração.

Gritos, abraços e beijos.

Comemoração de algo que nem os compete. É cedo para comemorar.

Eu gosto das minhas tartarugas tímidas. Não quero elas abrindo a cabeça para ninguém. No meu lago particular de onde elas nunca saem. Eu gosto delas assim, do jeito que eu as coloquei naquele lago.

As tartarugas não escutam os barulhos do gol que aconteceu a poucos minutos atrás. Também, elas são tartarugas. Mal tem ouvidos.

"Mas eu contei sobre o gol, mostrei a jogada"

Espero que isso não custe as outras jogadas do campeonato. Não quero estragar essa maré de boa sorte. As tartarugas me entendem, pequenos seres compreensivos. Elas me acolhem, nadam perto de mim quando eu chego com a comida. Talvez eu só sirva para colocar a comida delas. Mas estamos perdendo a rédea!

As tartarugas elas não me julgam. Estou rindo. Estou rindo pois vou contar desse gol para meus amigos. E como foi certeiro. E como as tartarugas me ouviram correr pela circunferência do lago gritando "Gol!"

Elas são minhas amigas. As vezes penso que minhas únicas, elas testemunham a minha vida, eu saio de um lado ao outro do lago e elas já sabem que eu estou ansiosa, ou quando eu entro no lago bufando para resolver algum problema, elas sabem que estou sem paciência.

E elas nadam, tão serenas.

Gol. Mais um. Eu rio, feliz. É inevitável, nem as tartarugas me protegeriam desse jogo.

Nesse jogo, eu estou ganhando se sorrir