Máscara
- Clara Godoy
- há 20 horas
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Do bar vejo você. No salão, você é charmoso. Por que a dança não é nada demais para um homem como você. Só me resta beber meu vinho, afinal, ele é meu único companheiro.
No entanto, não posso deixar de te seguir com os olhos. O charme, o sorriso. E eu me pego imaginando coisas. Chacoalho a cabeça. Não posso pensar nisso agora. Não com esse cara, que sequer olharia para mim em uma noite nor-
Mas aí que eu olho de volta e ele está me olhando. Talvez seja meu vestido preto. Mas eu sei que não sou nada convidativa. Será que ele se pergunta quem eu sou? Nesse baile de máscaras, eu deveria estar vestindo a minha. Mas ele não veste, tampouco eu.
Se eu estivesse esperando a aproximação eu diria. Mas é óbvio que eu não espero. Portanto, eu quase engasgo com meu vinho quando ele vem na minha direção, dispensando a atenção das outras tantas pessoas que poderiam entreter ele.
Engraçado
Nessa fantasia, você não estaria. Não te imagino tomando esse papel, se é que imaginei alguma vez. Será que já imaginei alguém nesse papel antes? Não que eu me lembre. Não que eu não possa colocá-lo nessa posição. Isso requereria eu comprar um vestido preto e o levar em um baile. Mas duvido que ele se comportaria. Não é uma questão de ele não estar confortável nesse ambiente, por que muito provavelmente ele não estaria. E ele não seria esse homem solto e charmoso que eu imagino. Será que eu imagino as coisas que nunca me ocorrerão?
Engraçado
Eu sei que ele não aceitaria ser levado. E se fosse, seria como um peixe fora da água. Fora do seu elemento. Então, por que, em pleno dia, eu ainda me imagino nesses cenários? Talvez seja a distância. Talvez seja o imediatismo.
Nos conhecemos por acaso. Eu por acaso resolvi fazer algo que não fazia.
E o resto é história. História? Presente? Passado? Futuro.
A única coisa certa é a morte. Por que a nossa história de amor está longe de ser um conto de fadas cuja única cor é o vermelho. Ou o cor de rosa bebê. Ah, acho que vou vomitar.
A nossa história de amor tem uma cor de preto. Preto da cor da mesa em que nos sentamos, um de frente para o outro. Não foi uma mesa de bar. E eu tomava um energético ao invés de um vinho. E eu fui pega de surpresa pela sua presença. E você, em poucos minutos me conquistou pouco a pouco. E eu me senti culpada, por que eu sabia que aquilo poderia evoluir. E eu tinha medo do amor, por que até aquele momento ele não havia sido muito generoso comigo. Até aquele momento ele tinha me dado a sorte uma única vez. E aquele homem, que eu achei que fosse ser o único, no final me abandonou. Não como todos os outros. Tem alguns que eu não me arrependo. Eu mereço mais que esses canalhas. Mas não você, nem ele. E talvez, nem um terceiro. Mas dele eu não irei me alongar. Porque esse texto não está sendo escrito para isso
Vertigem. Eu o vi novamente, mas aquela noite foi uma bagunça. Quase não ficamos juntos. Porque foi uma loucura sem fim. No final, quase não ficamos juntos, e aí resolvemos ficar juntos naquele domingo de sol e de parque. De canseira. De risadas e dancinhas para comida. De você e eu.
Quando chegamos ao presente. Não sei, talvez aquela saída que também deu errado. A carne e os prazeres da carne. E a podridão da carne que apodrece.
Quando chegamos ao presente?
Talvez seja seu sotaque carregado
O jeito com que me olha enquanto dirige
O jeito com que me beija
Ou talvez seja simplismente seu olhar
É difícil colocar em palavras
Você me rouba as palavras. E eu nunca me senti assim antes. Nenhum nunca me roubou as palavras antes. Isso me enlouquece. Você.
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