Revirado
- Clara Godoy
- 22 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Estou me sentindo revirada. Não por dentro como gostaria. Azia e ânsia dançando em meu estômago. Não revirada de paixão. Estou revirada, do avesso. Por um tanto quanto especial tecido que me faz de ponto de costura.
Tecido negrume de pontos pretos, que por vezes acinzenta-se tornando se branco por completo. E eu, colorida, não quero mais voltar aos tons monocolores e pretos e brancos daquele tecido que me revira.
Dentro do bolso da bolsa que visto, o brilho metálico me atrai. Mas o colorido, ninguém se salva. Os tecidos se rasgam. Eu os rasgo com os dentes. Aguente a minha loucura, emissário. Eu sou o caos. Me viva, me beba, me ingira, me engula, me vomite no chão desacordada.
Venha até mim, como eu venho até ti. Reclame do tempo chuvoso e pise na poça lamacenta. Eu dançarei ensopada. Reclame do tempo escuro e veja o sangue pingar. Eu estanco o sangue corrente com a boca. O enjôo do gosto de metal. Não era isso que eu desejava.
O metal é atraente mais ainda sim é tóxico. já me intoxiquei algumas vezes. Você parece um tecido liso... roxo vermelho e azul. Quem sabe branco no preto, ou preto no branco. Você é um Haikai, um poema de 3 versos. Você não fez meu coração acelerar. Deveria eu me preocupar? Deveria eu pensar... no que deixei de sentir em detrimento da doença pútrida que é a paixão? Deveria eu?
Revirado
Você me fez escrever sobre você. Maldito sorridente. Desgraçado ardente. Queime nas chamas do caos do inferno latente, do meu sangue pujante que derramarei em ti. Segure-se no meu braço. Caia do abismo. Enfrente o seu demônio. O meu demônio não é sociável.
Agora eu olho para as árvores e o vento que as move. As folhas no chão da rua. Os carros invadindo calçadas. Incêndios a céu aberto e tiros para cima. Se eu te beijar agora, você morreria? Ou reencarnaria por mim...
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