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Pílula

  • Foto do escritor: Clara Godoy
    Clara Godoy
  • 28 de out. de 2022
  • 3 min de leitura

A menina sempre pra lá e para cá. De manhã na faculdade, acordando cansada e indo até a aula anotando em seu pequeno caderninho e desenhando enquanto o professor explana a matéria. É só ir trabalhar agora


Indo para pegar dois ônibus, a cidade parece um gigante perto da pequena. Para lá e para cá chegando no escritório. Precisam de mim e ali, precisam disso e daquilo, precisam que eu faça aquilo outro. Ainda dou uma de quebra para o senhor...

Passando pelos corredores com papéis e certidões. Precisamos disso, precisamos daquilo. Mas quando ele está aqui ainda é melhor. Chegam e vão, chegam e vão. Pausa para a comida, voltando com o cafezinho. Quem fez dessa vez? Ficou bom.


Ouvindo música para continuar no ritmo. Quero me levantar e dançar. Continuo a playlist e continuo ouvindo. Trabalhando, paro. Vou pra sala, volto, vou pra sala, volto. Dou uma olhada em uma rede social. Volto. Alguém já fez esses acompanhamentos?


Voltando para casa sozinha e cansada. Dormir e repetir. Ainda dou, uma de quebra pro senhor...

Ela coloca a pílula na minha boca. A caixa de remédios jogada no chão do quarto. Essa é a mesma pílula de ontem? O dia se repete e gira. O remédio começa a fazer efeito. As cores mudam, o cinza volta, consigo ver o arco íris. Cuspo o remédio, deito e estou de novo caindo no abismo. Tudo é colorido. As mulheres se beijam com luxúria. Derreto de novo... olho as pílulas caindo, beijo as mulheres. Tudo gira, tudo sempre gira. Eles me beijam, eles me matam, eles me mostram. Minha mente prega mais peças que o remédio, minha mente é a própria droga.


Caio novamente. Me levanto sorrindo. Estou no país das maravilhas. Escolho a pílula vermelha.


Ele me falou de novo. Ele me falou que me ama. Ele me ama? Quem me ama? Ele, ela................

Quem eu escolho na minha cabeça cambaleante? Continuo andando pelos campos verdejantes por que no fundo nada importa, quem vem dessa vez, quem vai, é tudo a mesma coisa. Ninguém fica. É sempre a correria de sempre e apesar de estar feliz ainda não encontrei aquilo que quero. Mas desisti de ir atrás. Que venha e que vá, sempre vai ser a mesma coisa. Preciso dos remédios para me manter sã. Eles continuam fazendo efeito. mas não me tira a possibilidade de me perguntar o que estaria acontecendo se eu não os tomasse. Ver o mundo pela lente psicótica é assustador. Meu cérebro é assustador.


Seja como for, o mesmo permanece o mesmo. As coisas nunca vão mudar, por que elas são as mesmas. Eu passo o dia inteiro passando, andando e nunca nada acontece. Só as pessoas que eu gosto indo embora e o tempo passando, não para. Saudades de uma pessoa que fazia esse tempo parar


Agora é tarde para pedir ajuda dele, agora é tarde para tentar fingir que algo acontece além da imensidão escura e das pessoas que passam. Eu continuo no ritmo frenético, por que gosto da adrenalina. Queria poder ignorar isso para se tornar insustentável e me deixar o vazio que tanto amo. mas não tenho escolha, eu ainda continuo sendo cautelosa com a saúde.


Seja como for, ainda é tarde. Queria sair da casa e tomar um banho de chuva. Mas nunca tem uma pessoa para me acompanhar nessa caminhada. E nunca terá. A minha cabeça roda, ela me mente, ela me ama, ela me odeia. Ela me diz mentiras, ela me diz verdades,


 
 
 

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