Palavras
- Clara Godoy
- 14 de jun.
- 2 min de leitura
Será que, por ter colocado algumas palavras no papel hoje, todas tenham escapado de mim na hora que eu precisava?
Hoje trocamos muitas palavras. Palavras de amor, de redenção. Palavras de tristeza, lágrimas de emoção. Choramos um pelo outro. Nos confessamos. Confessamos nossos medos um para o outro. Nos abrimos. Rimos. Demos risada do nosso destino, como se estivéssemos acima dele.
Todas essas palavras fariam um belo romance de verão. Ou um filme meloso de férias de verão.
As palavras, no entanto, transbordam como cachoeira. Descem da cascata de sentimentos nos nossos corações. Elas não farão parte de um incrível romance musical de verão. Talvez, só participarão de os textos autobiográficos de uma jovem adulta tentando lidar com o mundo.
Eu sempre me banhei no lago das palavras que caíam como cachoeira, sempre que caía a água gelada do inverno, ou a água quente banhada de sol do verão, eu me afogava nas palavras
Respirava palavras, escrevia palavras, comia palavras. Sempre foi assim
Conversamos sobre o amor. E subitamente, eu estava sem palavras. O que nunca me faltou a vida toda... o que riu da minha cara. Eu estava no meio da mata. Ali sequer tinha uma nascente de palavras. Era tudo sentimento.
Sentimento cru. Sentimento cruel. Sentimentos de impotência. Sentimentos de não ser suficiente
Conversamos de dor
Eu abri o livro. O demônio deu seu olá. As palavras daquela página eram escuras. As palavras daquela página pareciam a escuridão. Não havia lanterna. O lago da cachoeira a noite parecia mais perigoso. Eu realmente poderia afogar. Perder o fôlego. Ficar á deriva.
Não seria o lago. Para aquelas palavras escuras, eu estava me deparando com algo nunca antes visto. O Mar de Palavras.
Conversamos sobre o futuro
Eu não queria me afogar no mar de palavras. Eu queria emergir. E depois de muito afundar, eu usei a maré contra o mar. Eu emergi tossindo
Conversamos sobre nós
Parei de tossir. O sol voltou a sair, depois de passar longos minutos escondido atrás de nuvens carregadas. Um respiro. Conversamos sobre nós. Fui transportada de volta à cachoeira.
E enfim, Conversamos sobre nossos planos
Saí do lago e da cachoeira de palavras. Pensei sobre o futuro. O dia seguinte que me esperaria depois daquilo. Como eu o veria novamente, como eu o abraçaria e o beijaria novamente. Como a semana acabou comigo. Como eu queria ter ele para mim antes de ter que passar por uma provação no dia seguinte. Tenho certeza. O mar de palavras não é nada. Isso por que o mar verde dos seus olhos tende a me consumir primeiro
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