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Exceção do contrato não cumprido

  • Foto do escritor: Clara Godoy
    Clara Godoy
  • há 6 dias
  • 2 min de leitura

De todos que já beijaram meus pés, sequer um reclamou das minhas unhas. E isso não me desce, Quando você me exije algo do qual não cumpriu, você mesmo. Eu me abri para você. Meus sentimentos, crus, despejando pela cama como minhas vísceras. Intestinos espalhados pela cama. E você me disse que meu sangue não estava vermelho suficiente para você poder beber. Assim ia ficar anêmico.


Essa é a exceção do contrato não cumprido: "Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro"


Nosso contrato foi curto. Assinamos os papéis, pegamos o instrumento. Registramos. Entramos. Entramos naquela casa decadente, das paredes escurecidas, garagem vazia de móveis antigos, escada e seres vivos. Sentei-me na sala. Observei os quadros. Bebi minha água. Tem algo errado aqui. Tem algo muito errado nisso.


Nosso contrato foi curto. E eu fiquei irresignada com o que aconteceu. E agora, meses depois do contrato, me dói o braço que assinou o contrato, como se eu tivesse assinado meu nome ao contrário. Depois de um dia do cão. Inferno astral.


"Eu confio nela. Ela me trouxe para cá"


Pois eu não. Eu não confio, eu não confio nela. Que fez tão mal nesse acordo que você assinou. Acordo errado, do avesso, ao contrário.


Se você olhasse, seu reflexo na poça de água suja a sua frente, veria que esse acordo é o pior que poderia ter assinado. Eu não posso assinar ele para você. Desse contrato, meu braço não doeu. Desse contrato, meu braço não se virou. Esse contrato, eu não assinei


"Pois quem não confia nela sou eu"


Ainda bem que nosso tempo de encontro foi curto. Na imensidão azul, por trás das montanhas, eu senti o cheiro de algo errado. O cheiro metálico e pútrido. De vísceras podres espalhadas. PODRES. Pouco se dizia da pessoa que tinha despejado elas. Pouco se dizia. Por que estar tão podre por dentro talvez fosse o menor dos seus problemas.


E quando discutimos sobre isso


Você foi embora, para um lugar que eu não sabia o qual. Te procurei por longas horas, chorando a cada esquina. E você longe. Fora.


Voltei para a cama e comecei a escrever. A nossa cama. Escrevi tudo que senti e guardei bem longe da vista de qualquer um. Aquilo não era mais sobre o maldito contrato, que nenhum de nós deveria ter assinado. Aquilo era mais sério.


Eu e você e você e eu


Aquilo era sobre nós


E quando você vai voltar? Não sei


Não sei mais nada


Sei que esse texto começou comigo falando sobre a exceção do contrato não cumprido


E termina com eu olhando para a rua pela janela


Quando você vai chegar? Onde foi e para onde vai?





 
 
 

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