Amor Fictício
- Clara Godoy
- 27 de mai. de 2024
- 2 min de leitura
Enquanto me trajo de uma pessoa que não sou, experiencio prazeres na carne de quem realmente sou, me beneficiando um simples faz-de-conta virtual.
Aquele que me acompanha, também, de certa forma, não entenda o vício que para mim é colocar uma pele por cima da outra, ou talvez, descascar-me em camadas profundas nunca vistas antes.
E meu amante, alheio aos fatos, escolheu, por livre arbítrio, se abster desse meu mundo particular. Talvez e muito provavelmente por um ciúme descontrolado que eu também sinto dele, quando ele dorme na casa de outra mulher.
O amor fictício é aquele que não existe, mas é a excitação da resposta e da história. É um roteiro em branco, uma página vazia, que vai se preenchendo aos poucos com marcas, sejam elas de guerra, sejam elas de luxúria.
Assim como as páginas de um livro, o amor fictício te dá arrepios e te dá sorrisos. Me faz falar sozinha, mergulhar no meu mundo particular, mergulhar em um oceano claro com as luzes dos peixes florescentes.
E talvez a falta de culpa me indique que eu não esteja pecando ao querer mais. Talvez a falta signifique que eu sou uma doente, como acredito que seja. Mas não de ver a decepção no rosto dos outros, mas da busca hedonista sem fim por satisfazer os meus próprios desejos.
O amor fictício não tem barreiras, não tem forma fixa, ele se metarfoseia. E tanto seja amar seu progenitor, por que isso seria cair ao abismo mais uma vez, e não há emissária que aguente tanto caos. Na calmaria dos olhos cegos, a emissária enxerga as maiores sutilezas, e não posso renunciar esse cargo por vontade.
A busca pelo amor fictício é a busca por si próprio, pelo amor próprio. E o caos vem junto. E na calmaria do buraco negro, olho para trás, e lá está você

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