A vilã da narrativa

Talvez eu seja a vilã da narrativa delas. Fico aqui pensando em tudo que aconteceu, bebericando minha xícara de café. Do lado de fora, as gotas de chuva continuam a cair, do céu escuro, em pleno verão.

Desde quando comecei a me sentir assim? Como se depois de decepções atrás de decepções eu entendesse que eu poderia muito bem ser a vilã na narrativa de algumas pessoas. O que eu poderia fazer para impedir isso?

Mas será que eu quero impedir isso? Quero de volta pessoas que durante meu momento mais vulnerável deram as costas para mim e meus problemas? "Resolva isso logo... não estaremos aqui em dias chuvosos. Só estaremos aqui em dias ensolarados". E mesmo em dias ensolarados, eu não me sentia parte daquilo. Não me sentia confortável, amada, parte daquilo. Eu nem me sentia parte de mim mesma. Eu não me conhecia bem o suficiente

Agora as gotas de chuva gotejam mais forte. O som da tempestade ruge ao fundo. Trovões e seus gritos ecoam pela cidade.

Desde essa noite chuvosa, eu nunca mais fui a mesma. Jà saí de muitos lugares escuros para mim. "Aqui você não pertence" "Você não faz ideia de que é a vilã dessa narrativa" "Não quero mais me relacionar com você". É sempre assim. Sempre foi. E sempre será, desde que eu me mantenha fiel a quem eu sou.

O demônio certamente tem um papel nisso. Mas ele não é de todo. Ele não é todo. Ele é apenas parte de mim. Ele é apenas uma parte inevitável de quem eu sou. Já fui rejeitada muitas vezes. Já tomei golpes no coração que doeram por anos. Anos de arrependimentos e sentindo todos os dias o gosto amargo do café passado em açúcar.

Mas ultimamente, as tempestades de verão pararam. De repente. Ou talvez seja o inverno se aproximando. Mas agora, não me sinto mais a vilã. A minha narrativa é minha mesma. Quem não quer estar, que não esteja. Quem não me quiser, a porta da rua é serventia da casa.

Agora tomo café com você. O gosto doce vicia. O mel.

Lá fora, o vento frio do outono me diz algo, algo como:

"Esse será o inverno mais quente que você irá passar"