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Maré

  • Foto do escritor: Clara Godoy
    Clara Godoy
  • 1 de jun.
  • 2 min de leitura

Talvez nunca tenha sido tão difícil escrever como hoje. Por que não é como antes. Agora meu coração não quer despejar os sentimentos em palavras, como uma cachoeira. Agora meu coração quer guardá-los. Sinto uma grande muralha, tentando conter um tsunami por entre suas paredes.



Eu não quero que esse sentimento vá embora



Seguro meu peito como se isso fosse ajudar. Seguro meu peito como se fosse impedir esse sentimento de cair como cascata em palavras confusas. Confusas? Ou será que eu, pela primeira vez, estou me embolando nas palavras?



Talvez seja o efeito colateral de tanto tempo observando a grama verde. Quando olho pela janela, ela está molhada. É uma grama tenra. Ela perpassa um sentimento calmo. Então eu me deito.



Eu me deito e me deixo cair nessa espiral de emoções. "Eu sempre soube o que falar. O que escrever". E o que mudou agora? Quero guardar esses sentimentos como o segredo que compartilhamos.



Antes eu não tinha me entregado. Agora, minha mão pende pela superfície da água. Eu afundo. Eu não quero subir. Eu não quero que me digam que devo respirar. Por este momento, apenas.



A luz reflete na água iluminando meu olhar. Não posso ser tão irresponsável. Se eu afundar, nem ELE poderá me salvar.



O respiro vem ofegante.



Isso me lembra da antiga história do amor. O amor é um precipício do qual todos se jogam. E mesmo depois de se machucarem, voltam. Como viciados.



E agora eu que estou viciada. Viciada o suficiente para, ao não sentir seu cheiro na minha blusa, xingar o destino mentalmente. Logo me policio. Ele me trouxe você.



O tempo voa. E ainda sim, nem um minuto passa. Eu me perdi na maré de novo. O tempo vira. A temperatura cai. As leves gotas da garoa me saúdam. Já não consigo mais controlar. Meu coração foi preenchido. É isso mesmo? A tanto tempo não sentia as dores do amor, quase a tanto tempo que me senti estéril.



Use seu coração e não a sua mente



Devo liberar meus pensamentos? Se eu me pergunto se não devo mais me segurar, eu me lembro como me sinto. Eu quero me afundar nesse sentimento. Nessa maré dentro das muralhas do meu coração. Estou me perdendo pelo cheiro salgado.


Nenhum plano de ação mais seria suficiente. Eu preciso me lembrar do meu objetivo. Relaxar. Eu puxo o ar.



Eu afundo



Mas agora, eu vejo meu objetivo na minha frente



E por mais improvável que seja



A luz do sol ilumina o caminho



Como se me abençoasse



"Aqui, tu não jazerás"

 
 
 

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