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Amora

  • Foto do escritor: Clara Godoy
    Clara Godoy
  • 29 de jun.
  • 2 min de leitura

Amora vivia uma vida singela, acompanhada de seus gatos, suas linhas de tricot e sua indecisão. Sempre acabava comprando mais linhas que o necessário. As vezes, no meio de Um projeto ela mudava a linha, como se imitasse o jeito com que uma pessoa mudava um disco de vinil quando se entediava. Das linhas favoritas favoritas de Amora, duas se destacavam. O preto e o branco. Engraçado a escolha. Também poderia se dizer que era assim que Amora enxergava a vida. Preta no branco.


Dois dias depois de comprar novas linhas, ela notou que a roupa que estava fazendo estava errada; Ela precisaria começar de novo. Então pegou seu celular e ligou para um número desconhecido. Eram Três da manhã.


"Alô?"


A conversa começou assim. Amora se apresentou e pediu para o estranho uma recomendação de cor. Roxo, como a fruta que batizava seu nome. Resolveu salvar o contato estranho. Ligou de novo. Quatro vezes que a ligação para seu namorado caiu na caixa postal.


Ela voltou a fazer seu tricot. Em Cinco dias ela já tinha finalizado 3 peças. E sempre que precisava, ligava para o estranho e pedia recomendações. Recomendações viraram conversas sutis, conversas sutis viraram interesses. Em poucos dias estavam discutindo sobre suas vidas pessoais. Sabiam seus nomes, profissões, medos e gostos. Pouco mais de Seis ligações por dia eram feitas.


Sete dias depois, ele a perguntou sobre sua situação. E Amora mentiu. Amora mentiu que estava com alguém. Ela não queria admitir que a pessoa que quase nunca respondia suas ligações e que a usava de penduricalho de carro barato era quem estava namorando. Estava infeliz. Queria viver um romance com o estranho do telefone. Ele pelo menos parecia mais interessante.


A cabeça de Amora girava. Ela se apaixonou de novo. E novamente, ela sabia que estava errada. Ela foi consertar o que tinha destruído rapidamente, com palavras ríspidas na caixa postal e um bloqueio no celular. Ela sentia culpa. Ela sentia medo. Mas ela sabia o que sentia pelo estranho do telefone. Agora ele não era mais um estranho. Mas a vida não era doce como o nome que que a batizava.


Oito chamadas perdidas no telefone. O estranho entrava no apartamento destrancado de Amora. Nove facadas em seu peito.


Dez gritos

 
 
 

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