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Alpha 23.

  • Foto do escritor: Clara Godoy
    Clara Godoy
  • 9 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

Alpha 23

Hoje, meu corpo dói. Percebi as feridas há poucas semanas. É difícil me mover, elas estão por toda parte. Mas aguentarei. Feridas se vão, viram cicatrizes. Mas as minhas cicatrizes serão mais profundas dessa vez. Porque a dor física passa, mas a dor que eu sinto, tardará, certamente.

Foi em um belo dia que baixei as minhas guardas para certo alguém. Não, aqui não se fala do inverno, outono, ou qualquer uma das estações. Pois não a conheci nessas circunstâncias. Eu era uma garota que olhava sempre para baixo, e preferia que não falassem comigo. Eu lembro de subir a escadaria, rodeada de pessoas, e não encarar ninguém. Mas aquilo não era uma escadaria. Era um matadouro. Eu a vi pela primeira vez, com o cheiro metálico de sangue perpetrando no ar. E tive um mau pressentimento.

De certo, que agora, não tenho dúvida que os lobos comeriam a minha carne, se fosse a mando dela. Beira o ridículo a previsibilidade da sua imprevisibilidade. Mas, tive a minha cota, e quando cheirei o sangue, sabia como me defender da matança.

Foi na proeminência do inverno, que entendi, pela primeira vez, que mesmo que se construa pedra a pedra o castelo, não se sabe qual sopro será o suficiente para o destruir por completo. A base do nosso castelo era duvidosa. E ela teve o prazer em destruí-lo.

Alpha 23, a destruidora de galáxias. Nunca duvidei da sua força. Mas a metamorfose me consome, e me tornarei buraco negro, se isso significa te neutralizar.

Os nossos dias de paz parecem tão distantes, como lembranças vazias que se esvaem ao vento. É cômico ver a inutilidade das nossas conversas. Coisas da vida, pequenas, de nada relevantes. Alpha 23 me faz rir.

As minhas feridas ainda me incomodam. Porque o coração deixou de ser dividido. Ele não está mais no campo de visão. O meu apego me pede para seguir em frente, atravessar a avenida movimentada e me atropelar. Mas eu sei que tenho que voltar, e esperar o sinal fechar. A minha impaciência me controla, mas dessa vez, eu disse uma coisa a mim mesma. Me disse para tentar. Do jeito que eu não gosto, porque, se eu cultivar essa árvore com cuidado, o dia que florir, serei mais feliz colhendo suas flores.


Meus sinceros cumprimentos a você Alpha 23


E ao floco de neve, na primavera, quem sabe, nossos olhares se cruzem na multidão?

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